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(Andy Warhol, 1980, John Lennon)
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Carta Aos Setentões por Isabel Fomm de Vasconcellos
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Liberdade para o corpo das mulheres! Os sutiãs foram queimados! Abaixo a opressão. A pílula concretizou o sonho de amar sem engravidar. Faça Amor, Não Faça a Guerra. “All you need is love”, berravam os Beatles nas nossas vitrolinhas a pilha e gravadores de rolo.
Todo mundo lia o Pequeno Príncipe e sabia que se tornava eternamente responsável por aquilo que cativava, mas sabia também que tudo era efêmero e o importante era que fosse eterno, enquanto durasse.
Todo mundo era contra a Guerra do Vietnã. Os garotos que, como eu, amavam os Beatles e os Rolling Stones. |
Aqui no Brasil, a censura corria solta e os jovens se reuniam, às escondidas, imaginando como iriam derrubar o regime militar. Alguns foram ingênuos e heroicos o suficiente para pegar em armas. Muitos pagaram com a vida. Tinham aprendido, com Guevara, que importante era endurecer sem perder a ternura e, com McLuhan, que o meio é que é a mensagem.
Elis Regina cantava, lindamente, que a terra era de ninguém e Nara Leão afirmava que podiam, bater, prender, mas que não mudava, não, de opinião. Todo mundo acreditava que o mundo já não seria o mesmo, depois de tanta briga pela liberdade.
Roberto se tornou um setentão vestido de hippie de boutique e que só faz suspirar as antigas moçoilas românticas, todas sozinhas, ou por solteironas, ou por divorciadas, ou por mal casadas.
Ninguém lembra mais de Marcuse ou McLuhan. O meio ficou sem mensagem. E Fidel morreu como mais um ditador inflexível e sanguinário.
O sexo,
que deveria ser livre, virou escravidão. Agora se é obrigado a ter
prazer, orgasmos múltiplos são exigidos dos corpos que devem ser
esculturais. A ditadura da moda substituiu a dos militares. E você que
se mate para estar nos padrões! Ah,
liberdade! O que será isso, mesmo? Será que alguém ainda se lembra? Todos metidos nessa corrida pelo ter, esquecidos de ser. Só uns velhos poetas e sonhadores ainda suspiram de saudades, perplexos, a contemplar esse mundo de novas exigências, de rodeios, de sertanejos bocós, de programas ignorantes nas televisões, de estupidez explícita nas redes sociais, de reeleição de direitistas na América, do poder nas mãos de fanáticos religiosos do oriente, de droga, de descarada corrupção e de violência gratuita. Baby, do you wanna dance?
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MARAVILHOSAS: voce e sua cronica.
Nossos anos sessenta nunca foram moda, foram vividos e bem vividos.... viajei com sua carta.Parabéns!
Isabel, em breve farei 78 anos e você me transportou para aquela minha juventude das descobertas constantes. Não apenas presenciei, mas vivenciei com intensidade tudo o que você relata na sua carta. Meu lema era "o tempo urge e meu coração ruge" e era ouvindo e seguindo esse rugido que eu ia levando vida. Aliás, sua carta me remete a minha crônica "Um cantinho, um violão e algumas bofetadas", publicada no livro "40 Viagens e um Roteiro", em que começo com a descoberta da bossa nova através do João Gilberto, do cantar intimista da Claudete Soares e da Alaíde Costa. E termino comentando: "Depois vieram outros sons - angustiantes e sem ritmo das sirenes, das bombas de gás lacrimogênio, dos gritos nos porões da ditadura: o som anárquico dos Dzi Croquete e, apesar de tudo ser perigoso, era divino-maravilhoso. Caetano instigando a não ter medo, porque "nada é pior do que tudo que você já tem no seu coração mudo". E hoje me deparo com uma apatia terrível nas pessoas; esse politicamente correto cerceando nossa espontaneidade, e essa juventude lépida tecnologicamente, mas tão sem conteúdo. E lá vamos nós, setentões, "caminhando contra o vento...".
Parabéns Isabel! Fui dar uma voltinha naquela época... Excelente!!
Continuamos ouvindo Beatles e Rolling Stones e a rapaziada de hoje se agrega a nossa turma ainda.
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Muito bom Isabel. Também tenho saudades
Excelente sua crônica da juventude revisitada sob o olhar crítico do milênio. Muitíssimo bem tecida. E eu, Pessoana desde os anos 60, me reavalio e penso “Que sei eu o que sou... Serei sempre o que não nasceu para isso; Serei sempre só o que tinha qualidades; Serei sempre o que esperou que lhe abrissem a porta ao pé de uma parede sem porta E cantou a cantiga do Infinito numa capoeira, E ouviu a voz de Deus num poço tapado.” Parabéns pela crônica precisa, Isabel!
Maria Silvia Nogueira Caetano Leila Maiolo
Parabéns
Tecendo uma nova e linda colcha com retalhos do já vivido. Linda carta, me proporcionou uma ré-visão de tempos idos...mas nem tanto.
Muito boa carta ...e nossa verdade !!
Muito bom! Parabéns |
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