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Um romance que conta a saga de 5 mulheres diferentes que, por razões diferentes, se submetem à reprodução assistida -- da inseminação artificial ao bebê de proveta -- para engravidar.

 

Um pouco delas aqui, nessa amostra do nosso novo livro "Meu Filho, Minha Vida - Tudo por um Bebê de Proveta", de Artur Dzik e Isabel Fomm de Vasconcellos Caetano.

 

 

(Di Cavalcanti, 1930, Cinco Moças de Guaratinguetá)

 

 

5 razões Diferentes

para Engravidar

 

por Dr. Artur Dzik e Isabel Fomm de Vasconcellos Caetano.

 

 

1. Luiza Helena
Ela não estava realmente preocupada com o amor. Estava preocupada com seu império.
Sua amiga Beth era uma sentimental. Não entendia nada das razões práticas que a levavam a fazer qualquer negócio por um filho, um herdeiro. Era como se ela fosse uma rainha. O que era uma rainha se não tivesse um rei na barriga?
 

2. Sandra
Vindo para São Paulo pela serra velha, a Via Anchieta, Sandra reparava nos manacás floridos que ela sempre admirara no caminho para a praia, quando era criança e descia para Santos com seus pais, apenas para tomar um banho de mar no domingo e voltar em seguida. Bons tempos aqueles, sem grandes congestionamentos de trânsito. Os manacás já estavam ali, então.
Tudo, na natureza, era esse constante nascer e renascer. Por que só o seu ventre se recusava a dar frutos?
 

3. Telma
Sabiam que poderiam ter um filho biológico de Adriana, usando um Banco de Sêmen, usando a FIV para gerar, em laboratório, um embrião a partir do óvulo de Adriana e o esperma doado, implantar esse embrião em Telma e, assim, ter seu primeiro filho. Para o segundo, usariam o óvulo de Telma, com esperma doado, mas quem geraria esse seria Adriana. Teriam, assim, dois filhos realmente seus, por serem concebidos com os genes de uma e gerados pela outra.
 

4. Mariana*
Estava com ele há 4 anos, mas não o amava. Se apaixonara no começo. Que mulher não se apaixona instantaneamente por alguém famoso e com aquela voz? Mas agora tinha que agir friamente, racionalmente, para escapar do poder dele sobre ela.
 

5. Marileide
Sem família e sem homem, ela até juntara uma boa grana. Sabia que esses médicos chiques não eram baratos, mas talvez o que ela juntara na poupança...
Sim, porque Marileide, que nunca quisera homens, sempre quisera filhos e só agora estava sabendo que poderia ter filho sem ter que ter um homem.

 

*4) Mariana Castro

-- Às seis da tarde estaremos de novo aqui, ao vivo, dessa vez para falar dessa Fake News que tem se alastrado pelas redes sociais. Muita gente está tirando o dinheiro da poupança por causa desse boato virtual. Vou trazer um importante economista para esclarecer tudo aos nossos ouvintes. Eu volto já! Continuem ligados na sua Ultra Rádio, vem aí, Giovanni Guedes e seu Desafio Policial!

Mariana suspirou de alívio ao encerrar aquela edição de seu programa. Pretendia descer, tomar um café na lanchonete no saguão do prédio da emissora, dar uma volta na Paulista, talvez comprar alguma roupa ou sapato, só pra espairecer e pensar. Tinha 2 horas livres antes da próxima edição de seu programa de entrevistas e precisava pensar. Pensar!

Ontem vira, com tristeza, sua menstruação chegar. Mais uma vez, a despeito das tabelinhas e do termômetro, pelo jeito, não conseguira ter relações com Giovanni em seu dia fértil. Infértil ele não era porque tinha 3 filhos com a esposa. Mas, o que seria dela, se não tivesse um filho com ele para assegurar-lhe o futuro? Sem ele, ela não era ninguém.

Fôra ele, com seu prestígio de radialista e apresentador de TV, famoso, quem conseguira aqueles dois horários de 15 minutos para ela, na rádio. Se ele se cansasse de ir para a cama com ela, certamente cancelaria os horários e ela ficaria na rua da amargura. Mesmo que voltasse para a casa dos pais, a vida de classe média que eles poderiam lhe proporcionar não era nada perto do que ela tinha agora, sustentada por uma celebridade. Mas se essa celebridade quisesse, poderia também não só tirar seu programa como também barrar-lhe o acesso a outras oportunidades na grande mídia.

Durante a faculdade, Mariana estagiara numa TV local, não uma grande TV, apenas uma UHF daquele tempo. Estava começando uma carreira. Formou-se no curso de comunicação, Rádio e Televisão. Foi integrar a equipe, então, de um programa de produção independente, como funcionária da produtora. Trabalhou 10 anos lá, sempre de olho numa oportunidade de ir para a frente das câmeras. Oportunidade que nunca veio.

Um dia, há quatro anos passados, o grande Giovanni Guedes aparecera na produtora para gravar um comercial. Ela estava colocando o microfone de lapela nele, quando ele disse: -- Menina, que lindos olhos você tem!

-- Obrigada – respondeu ela, meio intimidada pelo carisma dele.

-- Você é técnica de som?

-- Não, senhor. Sou produtora. Mas vim quebrar o galho do sonoplasta que saiu correndo porque sua mulher começou a dar a luz. Parto natural, sabe, né?

-- Sei, nada de hora marcada.

-- Com licença – disse ela, afastando-se em direção ao switcher.

A gravação levou algumas horas. No final, quando foi tirar o microfone dele, ele disse, dando a ela um cartão:
-- Você não tem apenas lindos olhos. Tem também uma voz maravilhosa. Pode me procurar na Ultra Rádio, terça feira, às 7 da noite?

Da rádio para um apartamento dele foi só um pulo. Já eram amantes há alguns meses quando ele arrumou um patrocinador – que queria agradá-lo – para pagar os dois horários de 15 minutos por dia na rádio, de segunda a sexta, e a colocou lá. A voz dela era realmente muito boa e, ela, inteligente o suficiente para não fazer feio entrevistando figuras da vida pública. O programa dela entrava antes e depois do dele e, como todo mundo sabia, mas não comentava, sendo ela um caso dele, ninguém se atreveria a convidá-la a alçar voos maiores.

Não demorou muito pra que ela percebesse em que armadilha tinha caído.

Se antes ela podia se julgar uma mulher independente, com seu próprio salário, não muito grande, mas suficiente para pagar o aluguel e as despesas do seu quarto-e-sala no Bixiga e viver relativamente bem, agora ela dependia do salário de um patrocinador, que ele arrumara, para um horário na rádio que ele arrumara e que, se ela perdesse porque ele se cansasse dela, realmente seria difícil conseguir sozinha uma nova chance.

Ou seja, ele a comprara.

No começo, dizia todas aquelas coisas de “minha mulher é uma merda na cama”, “estou farto dos ciúmes dela” e outras pérolas de maridos que pulam a cerca, e, ela, idiota, acreditara. Com o tempo fôra percebendo que ele vivia muito bem, sim, com a mulher e os filhos e várias estadias dele na Ilha de Caras, com a família, a deixavam se roendo de ódio.

Estava amarrada a ele. A única maneira de se libertar seria ter um filho, escondido dele. Quando ele percebesse a barriga dela, já seria tarde para um aborto e, assim, ela teria pelo menos a garantia de, em último caso, uma pensão.

Depois poderia se mudar para outra cidade, onde ele era conhecido, mas não tinha poder sobre a mídia, e conseguir retomar uma carreira, na frente ou por trás dos microfones.

Estava com ele há 4 anos, mas não o amava. Se apaixonara no começo. Que mulher não se apaixona instantaneamente por alguém famoso e com aquela voz? Mas agora tinha que agir friamente, racionalmente, para escapar do poder dele sobre ela.

Naquela tarde, caminhando pela Paulista para fazer hora, parou num bar onde havia uma TV ligada. Dr. Alex, o médico famoso, dava uma entrevista ao jornal, edição da tarde, sobre a polêmica medida do governo federal que pensava patrocinar testes genéticos pré gestacionais para os casais, com o intuito de reduzir o número de nascidos com problemas.

Cruzes – pensou ela – isso é coisa de nazista! Mas imediatamente teve uma ideia. Se ela não engravidava naturalmente, iria à clínica desse médico ver se ele poderia ajuda-la de alguma forma. Sabia, no entanto, que os custos para essa ajuda não eram baixos. Teria que bancar isso sozinha. Imagine se Giovanni soubesse que ela estava planejando engravidar. Teria um ataque e a ameaçaria até, sabe Deus como! Mas faria algo, sem dúvida. Por isso, ele tinha que pensar que a gravidez acontecera naturalmente, que ela própria nem queria, que, quando falhou a menstruação ela achava que fosse uma coisa normal, pré-menopausa... Sim, essa seria a versão. Mas ela iria ainda hoje achar o telefone da clínica desse médico na Internet e marcar hora! E, pensando nisso, sorriu.