(Igor Morsky, 1990, A Árvore e o Cérebro)
(A árvore desse conto, na esquina da Alameda Joaquim Eugênio de Lima, com Avenida Paulista)
A nossa Árvore pensou:
desta vez, não vai ter jeito. Eles vão me derrubar. |
A ÁRVORE |
Quando
os homens chegaram, em 1871, ela já era uma Árvore robusta e adulta. Os
homens construíram uma chácara, perto dela. E ela, em alguns momentos,
temeu que eles a cortassem para abrir espaço àquelas construções que,
então, pareceram à nossa heroína, desenfreadas. Duas décadas depois, o arquiteto e empreendedor Joaquim Eugênio de Lima comprou todas aquelas chácaras, inclusive aquela onde estava a Árvore, para realizar na região dos Altos do Caaguaçu, um empreendimento que se tornaria, no futuro, histórico: a Avenida Paulista. Um boulevard que se destinava a ser o abrigo das elites paulistanas.
A Árvore
temeu por seu destino. Seria ela tombada e morta por aquela frenética
ebulição em nome do progresso dos humanos? Mas resistiu. A nova avenida
passava a poucos metros dela e ela lá permaneceu. Quase na esquina da
avenida. Depois,
vieram as mansões. A elite paulistana, no começo do século XX, construía
freneticamente suas ricas residências no leito da nova avenida. E a
Árvore passou a ser parte integrante do jardim de uma dessas
residências. Ela, que vira tantas das suas irmãs serem mortas, na avidez
dos construtores, ainda reinava, impávida, sobre uma das esquinas da
avenida. O pior
momento da sua vida, aconteceria, porém, nas décadas de 50 e 60 do
século XX. A tranquila avenida residencial viu as mansões serem postas
abaixo para dar lugar aos arranha-céus, colossos de concreto, desafiando
o firmamento. A nossa
Árvore pensou: desta vez, não vai ter jeito. Eles vão me derrubar. Mas,
como num milagre, ainda novamente ela resistiu. Ficou ali, na esquina da
alameda (que viria a ter o nome do idealizador da avenida)Joaquim Eugênio de
Lima, com a Av. Paulista. |
Logo, sob a marquise de um grande prédio que foi erguido no terreno,
onde, um dia, houvera uma residência (e a Árvore se lembrava bem de
quantas gerações de crianças vira crescer sob a sua sombra, até balanços
haviam sido instalados em seus galhos), surgiu um bar. Ah,
quantas histórias se multiplicavam naquela esquina, sob a sombra de seus
frondosos galhos. A Árvore viu mendigos, crianças engraxates, crianças
pedintes e ate grandes artistas, conversando ao lado de seu frondoso
tronco. Mas muito pouca gente prestava atenção à sua majestosa presença.
E muito menos ao significado das grandes memórias que ela guardava. Outro
dia, estava eu tomando um chopp de vinho, servido pela Lady Zu (cujo
verdadeiro nome é Zuleide) no boteco ao lado da Árvore. E foi então que
ela, a Árvore, me contou toda a sua história. E me disse que, depois que
instalaram aquele telão ali em frente à sua copa, ela ficou sabendo
muito mais sobre o mundo dos homens. Não que tivesse tido grandes
surpresas. Afinal,
a respeito do planeta Terra, as árvores sabem tudo, assim como sobre o Universo e as
Leis Cósmicas, já que todas as plantas se comunicam, por suas raízes,
que repousam sob a terra e recebem todas as energias que ali circulam.
Mas a
Árvore se mostrava surpresa com a constatação de que os seres humanos --
que raramente têm raízes -- tivessem acumulado tanto conhecimento sobre os mistérios do
Universo. A Árvore
me disse ainda que abrigava alguns ninhos de passarinhos, escondidos sob
seus galhos frondosos, e que, brevemente, daria novamente flores, apesar
da poluição do ambiente. Ela
estava um pouco triste, pois se achava meio inútil, hoje em dia, já que
quase ninguém sequer percebia a sua existência, todos tão ocupados com
tão grandes afazeres da grande cidade. “Quem passa nos carros, então –
disse ela –, e são tantos, nem percebe que eu existo.” - Oh,
mas eu percebo! – retruquei eu – E percebo a sua grande majestade. Eu
vou morrer, mas você continuará aí por anos e anos. Ela se
esticou, orgulhosa. Meu
chopp acabou. Paguei a conta e fui embora. Não sem antes acenar para
ela, do meio da faixa de pedestres.
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Ilca Moya
10 de janeiro de 2019 09:24
Isabel querida que lindo o conto que linda sua lembrança de mim
Vamos tomar um chopp de vinho com lady zu e matar todas as minhas saudades bj e
ainda de fora vc mora no meu coraçao como a arvore que nao morre nunca bjbj
José Eduardo Pereira Lima
10 de janeiro de 2019 10:25
Parabéns
Johnny Otpor comentou na sua publicação no grupo MUNDO DOS LIVROS.
👏👏👏✍️ |
Francinete Campos Sucesso!