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(Pedro Américo, 1888, Independência ou Morte)

 

Liberdade para quem?

 

“Abre as Asas sobre Nós”
Por Isabel Fomm de Vasconcellos
 

 

Quando D. Pedro (que ainda não era Primeiro) deu seu famoso grito de “Independência ou Morte” às margens do córrego do Ipiranga, estava garantindo a si mesmo a coroa de Imperador, coisa que seu pai, D. João VI, dissera a ele, ao sair do Brasil para voltar ao seu Reino em Portugal:

--  “Bota essa coroa na tua cabeça, Pedrinho, antes que outro aventureiro o faça”.

Liberdade! O Brasil deixava de ser colônia para virar um império.

 

 

Liberdade para quem? Em 1822, quando isso se deu, no 7 de setembro, o nosso país tinha milhares e milhares de negros escravizados. As mulheres continuavam presas à sua humilhante categoria de “cidadãs de segunda classe”, equiparadas, na Letra da Lei, às crianças e aos silvícolas. Todos eles carentes da “proteção” dos homens, brancos e de elite. Aliás, os chamados “selvagens” (apenas porque professavam uma cultura bem diferente da europeia, que mandava na terra nossa) continuariam a ser dizimados por muitos e muitos anos, sob a falácia da “proteção”.

Nesse 7 de setembro de 2021, 199 anos depois do grito de Liberdade do nosso D. Pedro I, melhoramos um pouco. Mulheres, índios, negros, pobres, e outras minorias discriminadas, lenta e duramente, foram conquistando, com o passar de décadas, alguns direitos e viram surgir, afinal – entre ditaduras várias e retrocessos variados – alguma esperança de igualdade de oportunidades, de respeito e até de solidariedade.
Não sem luta. Não sem sofrimento e morte. Não sem sacrifício.

Agora, a Data Nacional ameaça ser novamente cooptada pela Turma da Intolerância, a turma arrogante que julga ser a sua verdade, uma verdade única e universal. Até parece o Talibã.

Sempre que um pequeno grupo quer impor suas ideias a todos, a Deusa Liberdade treme nas bases. Está certo que “cão que ladra não morde”, mas, às vezes, consegue abocanhar alguma coisa.

Não existe Paz sem Liberdade.

E a liberdade é saber exercer, individualmente, a tolerância e a compreensão para verdades diferentes das nossas próprias. É saber ouvir. É amar ao próximo como a si mesmo, independentemente das discordâncias ideológicas e culturais. Isso é que é a Liberdade, com maiúscula. A Liberdade é não ter medo de pensar e de dizer aquilo que pensa; é a capacidade de dialógo, a capacidade de perceber que quem pensa diferente de você pode contribuir para melhorar seus próprios pensamentos e vice-versa; onde o diálogo inexiste, inexiste Liberdade.

Nenhum ser humano é melhor do que outro, a despeito de seus orgulhos idiotas, o orgulho da sua formação educacional, o orgulho de sua cor, o orgulho se seu dinheiro. Como diria Billy Blanco, “o tombo termina com terra por cima e na horizontal.”

Somos todos absolutamente iguais na hora da Morte.

Seres humanos, animais, árvores, insetos. Nada, sobre a Terra, perdura. Tudo morre e se transforma.

Bastaria a consciência disso para nos vermos todos iguais, e livres.