Liberdade para quem? Em 1822,
quando isso se deu, no 7 de setembro, o nosso país tinha milhares e
milhares de negros escravizados. As mulheres continuavam presas à sua
humilhante categoria de “cidadãs de segunda classe”, equiparadas, na
Letra da Lei, às crianças e aos silvícolas. Todos eles carentes da
“proteção” dos homens, brancos e de elite. Aliás, os chamados
“selvagens” (apenas porque professavam uma cultura bem diferente da
europeia, que mandava na terra nossa) continuariam a ser dizimados por
muitos e muitos anos, sob a falácia da “proteção”.
Nesse 7 de setembro de 2021, 199 anos depois do grito de Liberdade do
nosso D. Pedro I, melhoramos um pouco. Mulheres, índios, negros, pobres,
e outras minorias discriminadas, lenta e duramente, foram conquistando,
com o passar de décadas, alguns direitos e viram surgir, afinal – entre
ditaduras várias e retrocessos variados – alguma esperança de igualdade
de oportunidades, de respeito e até de solidariedade.
Não sem luta. Não sem sofrimento e morte. Não sem sacrifício.
Agora, a Data Nacional ameaça ser novamente cooptada pela Turma da
Intolerância, a turma arrogante que julga ser a sua verdade, uma verdade
única e universal. Até parece o Talibã.
Sempre que um pequeno grupo quer impor suas ideias a todos, a Deusa
Liberdade treme nas bases. Está certo que “cão que ladra não morde”,
mas, às vezes, consegue abocanhar alguma coisa.
Não existe Paz sem Liberdade.
E a liberdade é saber exercer, individualmente, a tolerância e a
compreensão para verdades diferentes das nossas próprias. É saber ouvir.
É amar ao próximo como a si mesmo, independentemente das discordâncias
ideológicas e culturais. Isso é que é a Liberdade, com maiúscula. A
Liberdade é não ter medo de pensar e de dizer aquilo que pensa; é a
capacidade de dialógo, a capacidade de perceber que quem pensa diferente
de você pode contribuir para melhorar seus próprios pensamentos e
vice-versa; onde o diálogo inexiste, inexiste Liberdade.
Nenhum ser humano é melhor do que outro, a despeito de seus orgulhos
idiotas, o orgulho da sua formação educacional, o orgulho de sua cor, o
orgulho se seu dinheiro. Como diria Billy Blanco, “o tombo termina com
terra por cima e na horizontal.”
Somos todos absolutamente iguais na hora da Morte.
Seres humanos, animais, árvores, insetos. Nada, sobre a Terra, perdura.
Tudo morre e se transforma.
Bastaria a consciência disso para nos vermos todos iguais, e livres. |