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(Eugene Dellacroix, 1830, A Liberdade Guia o Povo)
(foto: Leo Orestes, Frame Photo, Estadão Conteúdo)
Muito Estranho
por Isabel Fomm de Vasconcellos
Ontem, sábado, 29 de maio de 2021, lá pelo meio de uma tarde de sol com algumas nuvens e temperatura amena, estava eu escrevendo aqui no meu computador que fica numa escrivaninha colocada na parede oposta à porta da sala e à esquerda dos 8 metros de Janela da Paulista. Entreabertos, os vidros da Janela deixam passar os muitos e variados barulhos da avenida.
De repente, ouço um som forte, parecendo uma onda do mar, ou antes, um tsunami (embora eu nunca tenha ouvido um, pelo menos ao vivo, graças aos céus). Pensei: Nossa, que coisa esquisita. O que será isso? Um batalhão de motos ou carros? Ou helicópteros voando juntos? Voltei a cabeça da tela para a Janela, disposta a levantar-me para ir ver o que acontecia. E qual não foi a minha surpresa ao ver que era simplesmente... chuva!
Chuva forte, numa tarde de Outono, mais parecendo uma chuva de verão, com um detalhe estranhíssimo porém: os grandes pingos que batiam na janela deixavam um rastro d'água, como cobras, na superfície do vidro, ao invés de gotas.
Era como se alguém, da janela do vizinho, jogasse um caminhão de água na nossa janela, era uma chuva horizontal! Nunca, em 36 anos de apartamento na avenida, vi uma chuva assim. Foi mesmo como se, de lá da Consolação, um tsunami aéreo passasse como um raio pela Paulista em direção ao Paraíso. Muito rápido. Não durou sequer cinco minutos esse banho de água na horizontal. Logo em seguida, o sol.
O sol fazendo brilhar toda a avenida molhada, o sol dourando a água e tudo brilhando, o asfalto, as janelas, os telhados dos prédios, as coberturas, os jardins, as árvores e os guarda chuvas do povo que logo saiu em marcha de protesto.
Foi Deus -- conclui -- que mandou São Pedro clarear e purificar os caminhos daqueles que têm a coragem de lutar pela Vida.
