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Quem não está comigo, está contra mim. Só que Não.
por Isabel Fomm de Vasconcellos

   

Goya, fuzilamento

 

Janela da Paulista, 15 de março de 2016

 

Janela da Paulista, 18 de março de 2016


A imaturidade política de grande parte dos brasileiros cria situações que seriam esdrúxulas, se não fossem de grande tristeza.
Tem sido, nestes tempos controversos, bastante difícil para uma parte do nosso povo, perceber que há mais de cinquenta tons de cinza entre o branco e o preto.

Então, quando alguém se manifesta contra uma das reivindicações do pessoal que está do lado “contra” do muro de Brasília (vergonha!), uma multidão quer escorraçá-lo para o lado “A Favor”.
Não é bem assim.

Há os radicais do “A Favor”, que acham que o governo e o PT estão sempre certos, acham que os fins justificam os meios, numa mentalidade tipo Robin Hood: rouba mas tira 30 milhões da miséria (e aproveita para guardar uma parte do produto do roubo para construir seu próprio castelo).

Há os radicais do “Contra” que imaginam, como os dinossauros da nossa ditadura militar, que qualquer pensamento de tolerância com relação aos governantes seja um ato de total apoio à situação.
Ora. Há, no meio, inúmeras posições muito diferentes.

Há milhares e milhares de esquerdistas que estão completamente decepcionados com o PT.

Há muitos Fundadores e membros dos primeiros anos do Partido dos Trabalhadores, que há muito já deixaram o partido, por discordar dessa filosofia dos fins justificando os meios e por muitas outras discordâncias de posição e de fundamentos políticos. Dos 182 fundadores do PT, quase todos foram deixando o partido com o passar dos anos.

Há aqueles – e não são poucos – que estão indignados com a roubalheira que se instalou na Petrobrás e em muitas outras empresas estatais ou não, nos governos, nas autarquias... enfim... indignados com a roubalheira generalizada. Muitos deles vestiram o verde e o amarelo, saíram as ruas em protesto, mas nem por isso concordam com um processo de impeachment que está lhes parecendo mais um golpe branco do que outra coisa.

Há aqueles que também saíram, indignados, às ruas, para protestar contra a situação, mas pensam que tirar a presidente para colocar o vice é apenas trocar seis por meia dúzia.

Não vou cansar nem a mim nem aos leitores com mais exemplos.
Mas é pena que, no espaço de 80 metros que separava os “dois lados” do Muro de Brasilia não estivessem aqueles que não são radicais, nem de esquerda, nem de direita, nem de centro. Porque, entre estar de um lado e estar do outro lado, existem infinitas variedades de posição política. Mas a nossa imaturidade democrática só enxerga o sim absoluto ou o não absoluto.

Ainda temos, como diria o gênio da política (ou será do futebol?), Edson Arantes do Nascimento, o Pelé, que aprender a votar. Porque, no exercício da arte da política, estamos todos no time do muito pelo contrário.
Paz e amor, galera! E um pouco de leitura e de conhecimento de causa, para que deixemos de mostrar ao mundo que o Brasil é mais um analfabeto político da América Latina, ou Latrina, como preferirem.
 

publicado no site WMulher