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A Gravidez e Seus Mitos

por Isabel Fomm de Vasconcellos

 

Uma das complicações do estado gravídico é ainda muito pouco difundida pela mídia.

Trata-se da Depressão pós-parto. Essa doença acomete alto percentual das mulheres que dão à luz e tem vários graus. O mais sério pode levar ao suicídio e até ao infanticídio.

Cada vez que eu vejo o nosso mau jornalismo televisivo noticiando mães que abandonam filhos recém-nascidos em latas de lixo e vociferando contra essas mulheres, chamando-as de monstros e coisas piores, eu penso na depressão pós-parto. Mas penso também no quanto a gravidez, em nosso meio, é um dos maiores mitos que rondam—e aprisionam—as mulheres.

É comum endeusarmos a grávida.

É tão comum que, em estudos psicológicos sobre a causa da gravidez precoce, da gravidez na adolescência, aparece frequentemente a figura da menina que, sem muitas perspectivas de futuro brilhante, engravida para “ser alguém”, pelo menos por nove meses, para ter o “status de grávida”.
Esse status significa o respeito que a sociedade em geral tem pela grávida, os privilégios que ela adquire na preferência das filas de banco ou bancos do metrô, o respeito – até bem bonito – por aquela que está gerando uma nova vida.

É também comum, por isso, que se pense apenas positivamente na gravidez; que se pense que uma mulher grávida está realizada e feliz.
Será que está?
Certamente aquela que planejou sua gravidez, que está vivendo uma experiência desejada e mesmo ansiada, ao lado de um companheiro, com uma situação de vida estável, emocional e economicamente, está feliz.

Agora me diga: quantas mulheres, no Brasil de hoje, estão nessa situação?
Quantas, por outro lado, estão grávidas por “acidente”?
Quantas destas não tentaram, de todas as formas (do remédio proibido comprado no mercado negro à agulha de tricô) dar um fim a essa gravidez indesejada?
Quantas estão grávidas como resultado de uma violência sexual?
Quantas não terão um companheiro ao lado para assumir a paternidade, para dar apoio e carinho à criança que virá?
E, quantas, mesmo vivendo uma relação sadia e estável, não engravidaram apenas por pressão da sociedade e da família e não por desejo próprio?

As mulheres, durante a sua vida reprodutiva, ou seja, da adolescência à menopausa,

tem quatro vezes mais a doença depressão do que os homens. E não se pode explicar essa maior incidência apenas pelas variações hormonais (ou o preço pelo privilégio de poder gerar crianças) que acabam interferindo no trânsito dos neurotransmissores cerebrais e causando desde as mudanças de humor da TPM até transtornos afetivos mais graves. Tem que se explicar a maior ocorrência de depressão no sexo feminino também pela condição social das mulheres e pela enorme panela de pressão onde elas estão hoje mergulhadas.

 

 

 

Hoje em dia é comum que as mulheres adiem a gravidez até o último momento.

A natureza fixou a idade ideal para engravidar entre os 15 e os 25 anos (antes que os óvulos comecem a envelhecer, porque a mulher, diferentemente do homem que produz espermatozoides durante toda a vida, nasce com um determinado número de óvulos e eles envelhecem junto com ela). Mas nenhuma mulher moderna quer ter filhos antes de conquistar seus objetivos de vida, no estudo e no trabalho. Muitas renunciariam de bom grado à maternidade em nome da carreira. Como muitas renunciaram mesmo (a cirurgiã pioneira no Brasil, Dra. Angelita Gama, é uma delas) mas a maioria sucumbe à pressão da sociedade, da família ou mesmo do marido.

É bem fácil perceber, por todas as razões aqui colocadas, que, diferentemente do que se pensa, a maioria das mulheres grávidas não está totalmente feliz. Muitas delas estão mesmo infelizes.

A prevalência da doença depressão em grávidas atinge a marca de 12% no terceiro mês de gravidez e a violenta queda hormonal que ocorre depois do parto faz com que a depressão atinja o espantoso índice de 80% das mulheres que tem filhos pela primeira vez.

Por isso, antes de apontar o dedo para censurar as mulheres que, por qualquer razão, abandonam seu filhos recém nascidos, lembre-se daquela velha história da primeira pedra.

 

 

 

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Sheila Santos Parabéns pelo artigo Isabel Fomm de Vasconcellos, a gravidez quando querida e planejada é maravilhosa e ao mesmo tempo assustadora... ainda assim muitas dessas mulheres tem síndrome pós parto, imagine àquelas que não foram previstas, não foram queridas, aquelas que foram forçadas por um namorado, um marido ou um estuprador e não tem condições de tomar qualquer tipo de providência à respeito...acabam tendo algum Tilt no final quando se veem com um bebe que ela não quis...e ainda vem um cretino implantando a tal Lei 5069. Não digo que estão certas, mas não condeno.