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João Gancho, a Mensagem da Forma. por Isabel Fomm de Vasconcellos |
A velha sorriu um sorriso de sábia: |
Meu nome é João Gancho. Um dia, quando ainda pequeno, cansei de olhar só pra cara da miséria.
O rádio do
vizinho (naquele tempo não tinha TV e muito menos internet) falava de
coisas e coisas que eu jamais teria, nem sabia como eram. Olhei bem pra
cara da minha mãe e disse: Velha, vou cair na vida.
A velha era linda. Gasta, acabada,
esbodegada pela vida dura que tinha, mas linda. O pai sempre bêbado, a perder seu
salário inteiro nos cassinos brilhantes, jogando com quem podia e o
velho não podia...Mas o vício é danado. Não escolhe condição.
Minha mãe ficou olhando, como quem
não tinha entendido: |
Portinari, Guerra e Paz
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Juntei tudo o que eu precisava, ou
achava que precisaria, para a grande aventura.
Isto foi há mais de 60 anos. Nunca
mais voltei.
A cidade era dura e cruel, mas eu
tinha bom jogo de cintura. Pouca gente poderia reconhecer em mim, importante personagem da pantomina nacional, o menino João Gancho.
Nem eu mesmo entendo o que foi feito dele, em tantos me tornei.
Só sei que, na calada da noite,
ele volta, o menino João. 0 que fugiu de casa antes do jantar.
O gancho que me valeu o apelido e a
vida porque foi olhando pra ele,
conversando com ele como se fosse um amigo, nas longas madrugadas
geladas da minha infância solitária da cidade, que eu percebi a mensagem
da forma: enganchar. Não. Minto. Leal eu fui à minha mãe, quando lhe disse que não voltaria para o jantar.
(publicado na Revista "Cá Entre Nós", de Carlos Leite Ribeiro, em Portugal, agosto 2015) |
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COINCIDÊNCIA??
As tres primeiras pessoas que comentaram esse texto se chamam Antônio... |
Antonio Neto Gostei da estética generosa, mesmo para uma sociedade enganchada de forma mesquinha há tantas décadas |
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De: GMAIL
Antonio Carvalho do Nascimento |
De: "António
de Andrade Albuquerque" |
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