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O Sonho que Dirigi

por Isabel Fomm de Vasconcellos

Monet (tunel de flores)

 

e comecei a dizer bem alto, dentro do sonho: “Eu quero acordar! Eu quero acordar! Eu quero acordar!”

 

"Se eu posso sair de um sonho, também posso determinar como será um sonho."

 

Havia muito, muito tempo que eu não tinha sonhos angustiantes ou pesadelos daqueles bravos. Duas noites passadas, tive. E a situação em que eu me encontrava no sonho era tão horrorosa que eu simplesmente pensei: “Isto aqui é um sonho. É claro que é um sonho. E, portanto, posso acordar. Nesse momento, o Mauro está dormindo ao meu lado. Vou gritar e ele vai me acordar” e comecei a dizer bem alto, dentro do sonho: “Eu quero acordar! Eu quero acordar! Eu quero acordar!”

 

Logo senti a mão dele no meu ombro:

-- Belzinha, acorde, você está sonhando...

 

Na noite seguinte, sonhei que estava numa casa muito grande, que era nossa. Cercada por jardins e edículas muito bem decoradas. Estávamos lá fora, Mauro e eu, estava escuro, caminhávamos pelos jardins que me pareciam um tanto abandonados e pensei que precisava dar um jeito naquilo, plantar novas espécies, flores, pendurar orquídeas nas árvores, samambaias, bromélias nas sombras. Perguntei:

 

-- Mauro, mas essa casa é nossa? Como eu não me lembrava dela? Por que moramos na Paulista? Deveríamos morar aqui.

 

Então tive uma vaga lembrança de já ter vivido ali. Lembrei da minha amiga, irmã, Leda, assistindo um dos meus programas de TV, sentada numa linda poltrona de vime, num dos terraços.

 

Chegamos a uma piscina de pedras, no centro do jardim. Ali estavam algumas estátuas e muitos, muitos, muitos vasos de cerâmica, vazios, em forma de ânforas, bojudos, compridos... Alguns eram muito novos e me lembrei de tê-los ganho no meu último aniversário.

 

-- O que vamos fazer com tantos vasos? – perguntei – Devemos dar alguns deles de presente aos amigos.

Nesse instante Elisângela, a nossa linda diarista, se aproximou e me disse, apontando as estátuas:

 

-- Dona Isabel, essas esculturas, de noite, ficam conversando entre si.

 

-- Não faz mal – respondi – Deixa elas.

 

Foi então que um galho de trepadeira se enroscou no meu braço e me disse que precisava de mim, precisava que eu o plantasse.

Acordei. Mauro também estava acordado e contei a ele meu sonho. Então me lembrei da noite anterior, do pesadelo do qual eu conseguira sair, e disse a ele:

 

-- Se eu posso sair de um sonho, também posso determinar como será um sonho. Vou continuar sonhando com a casa, agora já arrumada, os jardins resplandecentes e o piso de paralelepípedos – que estava coberto de musgo – limpo e brilhante. Também estaremos recebendo lá na casa todas as pessoas que amamos hoje e que já amamos um dia.

 

Coloquei a cabeça no travesseiro e mergulhei numa festa, na casa, onde estavam todos os nossos amigos, os que já se foram e os que ainda estão na Terra. Dançávamos no piso de paralelepípedos, cercados pelo jardim esplendoroso, e a música vinha de um piano todo branco, de cauda, onde Cole Porter, com Linda ao seu lado, tocava.

 

Meus pais e meus irmãos estavam lá, assim como a minha sogra, Lourdes, com seu maravilhoso amor da velhice, Manolo. Você, Norminha, também estava. Assim como a Leda, dançando com um Milton forte e sóbrio. Cristiana, com Sergio e as crianças. Pedro Paulo estava lá. Romeu Meneghelo. Tito e Leida. Mr. Volpi e seus amores. Verinha Donadio. Júlia, Tobias e Roberto. Analia e Osmar. Marco, meu primeiro marido. Sergio Marques. Tânia e Lincoln. Kalil com suas filhas. Ilca. Daisy. Márcia e Quebrado. Gustavo. Lusimar. Jussara. Suely. Carlinhos Keidel.  Vera Krausz, com Vinicius. Mônica, Manoel, Vincent e Jeannete. Sergio Hamilton com Soninha... Todos. Minhas duas avós. Meu primo, Eduardo, seus pais, jovens e lindos como astros de Hollywood nos anos 1950, Dudu e Leo. Meus primos queridos, Zé Reynaldo, Denise, Fernando, Lu, Toninho, Zé Elias. Joaquim com o seu amado Edmar. Meus tios queridos, José e Terezinha. Beatriz e Eduardo Perez... todos!

Bolivar e Heloisa. Rui. Maria Carmen... E havia uma roda de amigos, rindo muito, em torno do Alvan, que contava suas impagáveis piadas.

Os pássaros brotavam das árvores. E as flores brilhavam como estrelas.

 

O sonho era meu. E eu, a anfitriã, junto com o meu amor.

(para Norminha, com 24 horas de atraso - 11 de junho de 2013)